


Cerrado Summit coloca o cerrado baiano no centro das discussões
Evento reforçou protagonismo do produtor rural e a urgência de novos instrumentos para impulsionar agricultura regenerativa.
Foram dois de trabalhos intensos – 15 e 16 de abril – com governos, empresas, bancos, entidades de representação dos agricultores e sociedade civil organizada, juntos, buscando soluções para escalar paisagens regenerativas, no AARL Cerrado Summit, o único evento preparatório para a COP 30 realizado fora de uma capital brasileira. No caso, a cidade de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, que sediou o encontro de cerca de 120 participantes, entre presenciais e online. A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), assim como a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) foram apoiadoras do evento, organizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria o Boston Consulting Group (BCG), World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
O Summit foi estruturado em torno de três pilares principais, políticas públicas, instrumentos de financiamento e métricas claras para mensuração dos resultados no campo e, além das palestras, incluiu trabalhos em grupos, para discutir soluções, como possíveis instrumentos para financiamento da transição para uma agricultura regenerativa, além da implementação de métricas e políticas públicas para tirar os planos do papel e partir para a ação. Os resultados deste trabalho colaborativo serão apresentados durante a COP 30, que acontecerá em novembro, em Belém, no Pará.
“Foi impressionante ver tantos setores pensando juntos em soluções factíveis, e o quanto nós, agricultores, e, em especial os produtores de algodão do Brasil, podemos ser parte da solução para as definições que vão impactar no futuro do planeta. Fico muito esperançosa com tudo o que ouvi e que construímos e esperamos que o que tratamos se constitua num material de referência para a COP30”, afirmou a presidente da Abapa, Alessandra Zanotto Costa, que ressaltou também a escolha de Luís Eduardo Magalhães como sede da conferência “pré-COP”. “Ver Luís Eduardo Magalhães como cenário de um encontro preparatório para a COP 30 é muito significativo. Mostra que o cerrado, tantas vezes esquecido, agora está no centro das discussões sobre o futuro do planeta, e os agricultores, sobretudo os produtores de algodão, querem ser parte dessa mudança”, ponderou. “Foram dois dias de muito diálogo e conexão, e o saldo deste grandioso evento foi muito positivo. O setor já adota grande parte das práticas de agricultura regenerativa, e isso se reflete no caso de sucesso do algodão do Brasil, pois sustentabilidade e produtividade andam juntas. Temos muito a contribuir”, finaliza.
Financiamento e métricas
O grande desafio, explicou Matheus Munhoz, gerente de projetos do BCG no Brasil, é viabilizar financeiramente essa mudança, combinando crédito, seguros, garantias e pagamentos por serviços ambientais, sempre com métricas concretas para aferir os resultados. “O objetivo é garantir que o produtor tenha liberdade para adotar as melhores técnicas para sua realidade, mas com acompanhamento de resultados tangíveis, tanto econômicos quanto ambientais”, disse.
De acordo com a estimativa da BCG, para viabilizar a escalada da agricultura regenerativa, seria necessário um aporte de cerca de US$ 55 bilhões de dólares até 2050, sendo já US$ 3 bilhões até 2030. “Esses recursos vêm de uma combinação entre o setor público e o privado. Uma parte deles, por meio dos programas do governo, como o Renovagro, que está dentro do programa ABC, e financiamento através do Plano Safra”, afirma.
“A escala da transformação que precisamos é tão grande que nenhuma organização, agricultor ou entidade conseguirá fazer sozinha. Precisamos trabalhar juntos”, afirmou Shalini Unnikrishnan, diretora do BCG, destacando a importância da união entre produtores, setor privado e governo para tornar viável a mudança de práticas agrícolas em larga escala.
A CEO do banco holandês Rabobank no Brasil, Fabiana Alves, reforçou a necessidade de se avançar nessa agenda de financiamento, especialmente no cerrado, considerado estratégico para a segurança alimentar e para a resiliência climática. “O Cerrado é a região do Brasil que pode resolver o paradoxo entre o crescimento da produção agrícola e a preservação climática. Temos que discutir como a indústria financeira vai apoiar essa transição, investindo em tecnologias e na recuperação de áreas degradadas”, afirmou.
Incentivo
Para os produtores presentes, a expectativa é de que o debate se traduza em ações práticas. “A sociedade quer que o agricultor adote práticas sustentáveis, mas precisa começar a reconhecer e incentivar isso. A agricultura regenerativa deve ser pensada como uma forma de tornar o negócio mais resiliente, não apenas como resposta a cobranças externas”, defendeu Guilherme Scheffer, acionista do Grupo Scheffer, empresa que está entre as pioneiras na defesa de uma agricultura regenerativa no Brasil.
Do lado do Governo Federal, Pedro Neto, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Mapa, reforçou a importância do evento para a construção de propostas a serem apresentadas na COP 30. “O Cerrado Summit trouxe informações e provocações que serão fundamentais para que governo e sociedade organizada sigam dialogando e consolidando um agro sustentável. Os materiais produzidos aqui serão estratégicos para a nossa atuação internacional”, disse.
In loco
Os trabalhos do AARL Cerrado Summit terminaram com um dia de imersão na produção e na conservação do cerrado baiano, com os participantes tendo a oportunidade de testemunhar a agricultura sustentável que se pratica na região Oeste da Bahia. Começaram o dia visitando a Fazenda Trinfo, do Grupo Manjabosco, considerada modelo em integração lavoura-pecuária e outras práticas sustentáveis como o plantio direto e a rotação de culturas, além de uma biofábrica de insumos agrícolas on-farm. Após isso, eles visitaram um dos cartões postais do bioma regional, a cachoeira do Acaba Vida.
“Fechar o evento com um cenário bonito como esse e poder chancelar a efetividade do que debatemos, tanto a nível de campo, quanto de natureza e de conteúdo das palestras, nos dá a certeza de que o evento foi realizado com sucesso. Saímos daqui confiantes de que estamos no caminho certo. Os depoimentos que ouvimos durante todo o evento reforçam o agro diferenciado que conseguimos construir, com discussões sobre biológicos, cobertura sempre verde, agricultura regenerativa, agro sustentável e crédito de carbono. Foi uma troca intensa, que envolveu o público da porteira para fora, que muitas vezes desconhece a realidade da porteira para dentro”, destacou o presidente da Aiba, Moisés Schmidt.
17.04.2025
Imprensa ABAPA